A psicóloga Rosely Sayão, em texto do jornal Folha de S. Paulo,
caderno Equilíbrio, da última terça-feira, 6 de dezembro, p. 8,
escreve que, tempos atrás, a família era o principal motivo:
culpavam-se ‘as dificuldades no relacionamento familiar, a falta de
diálogo, os vínculos desfeitos, o autoritarismo educacional, as perdas
precoces e toda uma gama de causas familiares que poderiam explicar a
busca do jovem pelas drogas’. Porém, hoje em dia, ‘essa resposta já
não convence’.
Isso porque, atualmente, conforme os argumentos de Rosely, ‘temos todo
tipo de família, de educação, de vínculos, de rompimentos etc’.
Claro
que a família influencia, e muito, no comportamento do jovem. ‘Mas,
tais influências não são, necessariamente, determinantes ou causais’,
no que diz respeito às drogas. Pois, ‘agora, já não temos mais um
único culpado’. Vários são os caminhos que conduzem o jovem para o
mundo das drogas.
Para a experiente psicóloga, ‘os jovens experimentam ou irão
experimentar drogas por um motivo bem simples: elas existem, são
oferecidas; estão por aí’. Ou seja, a primeira e a mais forte razão
que leva um jovem, hoje em dia, a usar drogas é a oferta abundante
dessa substância, que pode ser facilmente encontrada nas ruas e em
todo tipo de festa. Nesse ponto, nós, da Vara da Infância e Juventude,
concordamos plenamente com a psicóloga, pois, nas operações noturnas
do toque de acolher, é muito comum verificar o quanto de droga,
infelizmente, está à disposição de consumidores, maiores ou menores,
principalmente, nas ruas, altas horas da noite.
Outro motivo que tem levado os jovens às drogas, apontado pela
psicóloga, é ‘a dificuldade dos mais novos para enfrentar situações
difíceis, com obstáculos que exigem esforço e perseverança. As
crianças têm sido demasiadamente poupadas [pelos pais, principalmente,
e pelas escolas, também] dos pequenos sofrimentos que fazem parte da
vida. Dessa forma, não desenvolvem recurso algum do qual possam lançar
mão quando necessário’. Ou seja, as crianças e os adolescentes
‘poderiam se angustiar, sofrer, amadurecer, errar, mudar o rumo,
experimentar. Mas [pela superproteção vinda dos pais e das escolas] o
percurso mais fácil parece ser o de se anestesiar’, isto é, tentar
sempre preservar os menores dos problemas que eles têm que enfrentar.
Ocorre que, no parecer da psicóloga, ‘as drogas, além de oferecerem
atrativos convincentes, têm esta serventia também: a de livrar de um
sofrimento, de uma situação difícil. Por isso, hoje, qualquer jovem
pode usar ou abusar das drogas [como meio de esconder o seu
sofrimento]. Talvez, se pudessem enfrentar os sofrimentos
característicos da infância - uma rejeição, uma exclusão, uma
frustração, um tropeço -, a escolha desse caminho [das drogas] na
adolescência poderia não ser tão óbvia, não é verdade?’
Em resumo, em resposta ao título deste texto, o que mais tem levado os
jovens às drogas: a oferta abundante, o que exige um maior controle
dos pais, por exemplo, sobre onde seu filho está, com quem ele anda,
que horas ele chega em casa, bem como a superproteção de muitos pais
de hoje em dia, que não deixam seus filhos encarar qualquer tipo de
sofrimento normal de uma pessoa em desenvolvimento, preferindo sempre
anestesiá-los, papel que as drogas farão, na adolescência.
Fonte: - Evandro Pelarin -
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